11/05/2020 –
Revisitando as mães

Muito já se disse sobre a mãe, sobretudo do ponto de vista do filho. Isto considerando que quando um escritor escreve ou quando um pintor retrata uma mãe, está de certa forma falando da mãe que tem na sua cabeça, aquela de sua infância. Mãe desejada por vezes odiada, mãe que o acalentou, mas que também o frustrou.

Mas e a mãe?  O que ela tem a dizer sobre isto?  Dos primeiríssimos tempos ela se esquece, mas vamos tentar lembrar como acontece.

Antes de ser mãe ela foi uma menina… Ainda menina, ensinada a se comportar “como uma mocinha” foi estimulada a cuidar, a se calar e, sobretudo a esperar. Num movimento de identificação a sua mãe desejou ela mesma ter seus bebês. Brincou de boneca e nessas brincadeiras pôde ser a mãe totalmente devotada aos filhos que quase não tem tempo para si mesmo, mas, também pôde ser aquela mãe irritada com o bebê que não quer comer que não pára de chorar e que por muitas vezes a afasta do marido, do trabalho e do lazer.

O boneco-bebê foi muitas vezes surrado e abandonado. Mas como foi tudo brincadeirinha, o boneco resistiu e a menininha pôde assim expressar suas frustrações, seus desejos, sua raiva e sair ilesa, pois aprendeu que pode ter raiva e continuar amando.
O tempo passou, a menina se tornou uma mocinha e seu desejo de maternidade foi reativado.
Foi alertada de que ainda era cedo e de que antes precisaria estudar, trabalhar para depois pensar em ter filho.

O tempo continuou passando e a ex-menininha e ex-mocinha se tornou mulher e, agora espera um bebê. Quantas dúvidas medos se passam pela sua cabeça: “Será que estou preparada para ser mãe? Conseguirei amamentar? O meu filho nascerá normal? Por que às vezes fico alegre e outras vezes triste? Serei agora menos desejada pelo meu marido? Meu corpo voltará a ser como antes”?

Este bebê que agora habita seu corpo e seu psiquismo é idealizado e investido enquanto objeto de aspirações.  Tudo gira em torno dele; alguns projetos são adiados e outros adiantados. Chega o dia. O bebê nasce. O pai, só alegria, pode pela primeira vez tocar e sentir o filho sem a intermediação da mulher. A mãe, mesmo tomada de alegria e orgulho, sente-se também vazia. Deprime-se e com razão, pois o nascimento implica numa continuidade, mas também numa ruptura do estado fusional em que mãe e bebê se confundiam.

Agora, mãe e bebê vão passar por um processo de “reconhecimento”, pois apesar de velhos conhecidos são também novos estranhos.

Este bebê cresce. Chega o momento de ir à escola. Quantas angústias…Novos encontros, relações cada vez mais amplas que, caucionadas pelo amor dos pais, vão permitindo a trajetória da criança para a própria individualidade.

O tempo não pára…  Menino ou menina, agora já homem ou mulher, tendo seus próprios filhos, reeditam, quem sabe, uma certa fantasia humana, de que se é imortal.

Maria do Carmo Camarotti

Psicóloga.Psicanalista. Mestra em Saúde Materno Infantil Especialista e formadora em Intervenção Precoce Pais- Bebê.
Coordenadora do Ciclos da Vida- Centro de Formação e Acompanhamento(Recife)

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