24/05/2022 – Dados pessoais
Quanto valem os seus dados?

Segundo Manuel Castells (1999), atualmente se vive no capitalismo  informacional,  em que a base da economia consiste na circulação e no tratamento dos dados pessoais. E segundo o famoso documentário “Dilema das Redes”, apenas duas indústrias chamam seus clientes de ‘usuários’: a das drogas ilícitas e a de softwares, afinal, “se você não estiver pagando pelo produto – você é o produto”.

Atualmente, como se sabe, os dados pessoais são bens preciosos e desejados por todas as empresas que se utilizam dos meios digitais, gerando, inclusive a necessidade da criação de uma lei regulamentadora do assunto, como assim se deu o surgimento da Lei Geral de Proteção de Dados.

É através da utilização dos dados pessoais dos usuários que as empresas digitais geram conteúdo, despertam interesse em determinados assuntos, e manipulam nossos desejos consumistas. Ou seja, é através das informações coletadas nos dados pessoais dos usuários que as empresas sabem como direcionar seu funcionamento e alcançar o lucro da forma mais eficiente possível.

Em outras palavras, com o acesso ao Big Data, se tornou possível para as empresas prever, planejar e obter mais sucesso em seus objetivos comerciais. Desse modo:

Big Data, com seu conjunto de processos e ferramentas de software criados para este fim, podem ser utilizados em análise para a obtenção de insights que podem levar, muito provavelmente, a organização a ter melhores decisões e direções estratégicas de negócio. Lembrando sempre que dado ruim nos dá resultado ruim,ou seja, não bastam as ferramentas.Este desdobramento de Big Data é o termo Big Data Analytics (o que mais se ouve falar em nosso mercado de TI), que identifica não somente poderosos softwares capazes de tratar esses dados, como também as técnicas utilizadas objetivando transformá-los em informações úteis às organizações (MACHADO, 2018, p. 100).

Assim, “o preço  que  pagamos  é  uma  forma de servidão digital: à medida que fornecemos mais dados, nossa projeção digital torna-se  melhor  definida,  nosso  comportamento  torna-se  mais  previsível  e  controlável.E o que parece ser escolhas e gostos nossos, são manipulações de interesses empresariais” (ABREU; NICOLAU. 2017).

Com isso, devido ao enorme valor dos dados pessoais na atualidade hiperconectada, iniciou-se o processo de monetização dos dados pessoais, o qual consiste na realização de operações financeiras das quais o produto são os dados pessoais dos cidadãos.

Nesse contexto, “a monetização  de  informações  pessoais  é  o  processo pelo  qual  ocorre  a transformação  de  dados  em  mercadorias  que  gerem  interesse  de  terceiros  e  sobre  os  quais haverá rentabilidade para o responsável pela sua coleta e/ou tratamento” (ADJEI, 2015, p. 02 apud Modesto).

Segundo o jornal Folha de Pernambuco, em setembro de 2022, será possível monetizar os próprios dados pessoais “em algo similar a uma caderneta de poupança”, através da chamada “dWallet”. Esta funcionará como uma carteira digital que reúne os dados pessoais, inclusive sensíveis, dos usuários, e permite aos mesmos a escolha sobre suas destinações a troco de um preço, como explicou o CEO da empresa DrumWave, André Vellozo:

Queremos eliminar o intermediário. Por que você precisa ter suas informações fracionadas entre os gigantes da tecnologia (como Facebook e Google) se pode controlar e fazer dinheiro com os dados que são seus? Já temos entre os parceiros um banco público e um privado no Brasil, além de várias empresas, de redes hospitalares a varejistas. É a lógica do Pix, agora no manejo de dados, diz Vellozo. (Folha de Pernambuco. 2022)

Assim, fica cada vez mais claro que a Era dos Dados chegou, visto que o a posse sobre tais se tornou tão relevante que movimenta a economia e dá ensejo a criações sobre o seu domínio.

 

REFERÊNCIAS:

ABREU, G.; NICOLAU, M. Big Data, publicidade e o consumidor dataficado: o caso da série House of Cards. Culturas Midiáticas, [S. l.], v. 10, n. 1, 2017. DOI:10.22478/ufpb.1983-5930.2017v10n1.35074. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/cm/article/view/35074. Acesso em: 03 maio de 2022.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: A era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

MACHADO, Felipe Nnery Rodrigues. Big Data O Futuro dos Dados e Aplicações. São Paulo: Saraiva Educação S.A., 2018.

MODESTO, Jéssica Andrade. Breves considerações acerca da monetização de dados pessoais na economia informacional à luz da lei geral de proteção de dados pessoais. Disponível em: https://indexlaw.org/index.php/revistadgnt/article/view/6558. Acesso em: 03 maio de 2022.

Empresa cria “carteira” para que pessoas lucrem com seus próprios dados. Disponível em: https://www.folhape.com.br/economia/empresa-cria-carteira-para-que-pessoas-lucrem-com-seus-proprios/224776/ . Acesso em: 02 de maio de 2022.

Paula Pimentel

Paula Pimentel é Advogada com experiência em Direito de Família, Direito Cibernético e Direito Tributário. Atualmente está cursando LLM em Direito Digital e é pesquisadora voluntária da PlacaMãe.Org_ desde 2019.

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